LENDAS DO LAERTE XII
Em 1969 éramos da diretoria da União dos Estudantes de
Araguari (UEA) e tínhamos problemas com vândalos quebrando vidros e invadindo a
sede. Numa sexta-feira, o Laerte ligou uma fase elétrica nas ferragens do vitrô.
O Reinaldo, nosso funcionário, já falecido, sempre que chegava pendurava o
guarda-chuva ali no vitrô. Nesse dia,
ele esqueceu o guarda-chuva, saiu, trancou a porta andou um pouco e começou
a chover. Ele voltou, viu a ponta do cabo pelo lado de fora e foi pegá-lo. Depois
ele fez uma poesia xingando o Laerte, com o título “O Choque”. No sábado de
manhã o Laerte desligou o fio e fomos no
Dodjão 64 dele buscar uma galinha. No local indicado havia uma galinha carijó e
um galo branco. Na dúvida, pegamos os
dois e já os executamos lá mesmo. Destroncados. Escondemos embaixo do banco
do passageiro e voltamos. Chegamos lá em casa ali pelas 9 h da manhã, o Laerte
depenou e preparou a galinha carijó para cozinhá-la à noite enquanto a gente
jogava truco. A galinhada ficou ótima. Como bebia aquela cambada. A caipirinha acabou e o sono já passeava
pelos olhos dos jogadores. Pelas 4 h da manhã a última dupla partiu. No domingo
a turma se juntou à tarde, para umas cervejas no bar do Crispim e à noite: cine
Olido. Logo na entrada o Laerte encontrou
aquela vizinha que habitava seus pensamentos durante o dia. Depois de um longo
olhar que o fez tropeçar, ele se aproximou, bateu um papinho e soube que ela não
ia entrar. Ia para casa cuidar da avó doente. Mas, só aqueles minutos de
conversa renderam tanto entusiasmo que ele nem prestou atenção no Giuliano
Gemma matando o Fernando Sancho mais uma vez. Depois do filme só falava nela. Fomos
para casa dormir, pois segunda-feira era dia de trabalhar. O Laerte parou o
Dodjão na porta da casa dele, pegou cerveja e ficou tocando violão até às 3h da
madrugada pensando na vizinha. Acordou
de ressaca ao meio dia com a doce voz dela chamando seu nome. Ela queria o
carro emprestado para levar a avó no médico. Prontamente entregou as chaves a
ela e voltou para atender o telefone. Um minuto depois, ela estava de volta.
Estendeu a mão com as chaves para o Laerte e gritou: “Isso não se faz! Minha
avó estava com pressão alta, agora também está vomitando sem parar. A culpa é
sua. Nunca mais converse comigo! Vou chamar um taxi.” Sem entender nada ele foi
até o carro, ao abrir a porta e sentir o cheiro horroroso de carniça, se lembrou
do galo branco.