Tuesday, November 5, 2013

LENDAS DO LAERTE XII


LENDAS DO LAERTE XII
Em 1969 éramos da diretoria da União dos Estudantes de Araguari (UEA) e tínhamos problemas com vândalos quebrando vidros e invadindo a sede. Numa sexta-feira, o Laerte ligou uma fase elétrica nas ferragens do vitrô. O Reinaldo, nosso funcionário, já falecido, sempre que chegava pendurava o guarda-chuva ali no vitrô.  Nesse dia, ele esqueceu o guarda-chuva, saiu, trancou a porta andou um pouco e começou a chover. Ele voltou, viu a ponta do cabo pelo lado de fora e foi pegá-lo. Depois ele fez uma poesia xingando o Laerte, com o título “O Choque”. No sábado de manhã o Laerte desligou o fio e fomos  no Dodjão 64 dele buscar uma galinha. No local indicado havia uma galinha carijó e um galo branco.  Na dúvida, pegamos os dois e já os executamos lá mesmo. Destroncados. Escondemos embaixo do banco do passageiro e voltamos. Chegamos lá em casa ali pelas 9 h da manhã, o Laerte depenou e preparou a galinha carijó para cozinhá-la à noite enquanto a gente jogava truco. A galinhada ficou ótima. Como bebia aquela cambada. A caipirinha acabou e o sono já passeava pelos olhos dos jogadores. Pelas 4 h da manhã a última dupla partiu. No domingo a turma se juntou à tarde, para umas cervejas no bar do Crispim e à noite: cine Olido.  Logo na entrada o Laerte encontrou aquela vizinha que habitava seus pensamentos durante o dia. Depois de um longo olhar que o fez tropeçar, ele se aproximou, bateu um papinho e soube que ela não ia entrar. Ia para casa cuidar da avó doente. Mas, só aqueles minutos de conversa renderam tanto entusiasmo que ele nem prestou atenção no Giuliano Gemma matando o Fernando Sancho mais uma vez. Depois do filme só falava nela. Fomos para casa dormir, pois segunda-feira era dia de trabalhar. O Laerte parou o Dodjão na porta da casa dele, pegou cerveja e ficou tocando violão até às 3h da madrugada pensando na vizinha.  Acordou de ressaca ao meio dia com a doce voz dela chamando seu nome. Ela queria o carro emprestado para levar a avó no médico. Prontamente entregou as chaves a ela e voltou para atender o telefone. Um minuto depois, ela estava de volta. Estendeu a mão com as chaves para o Laerte e gritou: “Isso não se faz! Minha avó estava com pressão alta, agora também está vomitando sem parar. A culpa é sua. Nunca mais converse comigo! Vou chamar um taxi.” Sem entender nada ele foi até o carro, ao abrir a porta e sentir o cheiro horroroso de carniça, se lembrou do galo branco.

Monday, September 23, 2013

Reza a Lenda que num sábado gelado de julho de 1968 começamos o truco às 14:00h pois todos iam na 2ª sessão às 21:45h no Cine Lux, ver o Christopher Lee em “Drácula, o Príncipe das Trevas”. Uma das poucas diversões de Araguari eram os cinemas. Os filmes do Drácula estavam no auge. O Cine Rex bem requintado e o Lux popular. O Laerte perdeu todas as partidas e de raiva, bebeu muita cerveja. Às 21:00h encerramos com a galinhada e partimos para enfrentar o Drácula, uns mais corajosos; outros meio acanhados de confessar o medo. Ao chegarmos, a luz já havia apagado e cada um procurou achar uma poltrona disponível. Alguns minutos de filme e o Laerte me disse que precisava ir ao banheiro, mas com o filme tenso, ele não queria perder nada. Na tela aparecia um cemitério escuro e túmulos iam sendo exibidos um a um até chegar à tumba do sinistro vampiro. Aquele era o momento em que a gente pensava: “Por que eu vim aqui?” O suor brotava na testa quando o caix...ão preto começava a abrir a tampa com um rangido de arrepiar os cabelos. Dentre as pessoas iam ao banheiro, o César, goleiro do Araguari, deixou uma bombinha, das grandes, com o estopim enfiado num cigarro aceso, escondida atrás do vaso sanitário. O cigarro queimava e a braza se aproximava da bomba prestes a explodir. Na tela aparecia um morcego chupando o sangue de uma jovem adormecida. Em seguida ele voava para o cemitério e se pendurava sobre o caixão já aberto onde jaziam as cinzas do Drácula. O Laerte suava e se segurava na cadeira, desesperado para ir ao banheiro e abismado com o morcego que deixava cair gotas de sangue nas cinzas que já começavam a se regenerar. Mais um pouco e o vampiro estava formado. De repende apareceu sua face e ele abriu aqueles olhos rajados de veias vermelhas e ao mesmo tempo a bomba explodiu. Um estrondo absurdo! Foi uma comoção geral. As pessoas se levantaram aterrorizadas, correndo, as luzes se acenderam, o Sr. João porteiro e o Sr. Manoel comissário de menores entraram bravos. Uma fumaceira saía do banheiro e o filme foi interrompido. Após um sermão de uns 6 minutos do Sr. Manoel e a ameaça de chamar o Cabo Baixinho, o filme recomeçou. O Drácula com suas malvadezas foi morto com uma cruz cravada nas costas e virou cinzas. Terminou o filme. Todos saímos aliviados, comentando os acontecimentos e cadê o Laerte? Ele foi o último a sair. Olhou para a turma que o esperava e disse: “Se alguém falar alguma coisa eu nunca mais saio com vocês.” E passou com aquela calça, boca de sino branca, ainda toda molhada.
Foto e Edição do Cine Lux por André Luiz Chaves – Araguari MG

Saturday, August 24, 2013

Lendas do Laerte X
Reza a Lenda que fomos pescar no rio Jordão, pela estrada de terra. O truco já estava marcado para a noite daquele sábado de abril de 1971. Fomos 6 pescadores no fusca do meu pai. Lá encontramos um amigo que tinha uma lavoura de milho e nos deu várias melancias. Adoramos os imensos presentes. Pescamos até as 17:00h e não tolerando mais os borrachudos, decidimos voltar com os lambaris já pescados. Eram só 11 km, mas demorava 20 minutos por causa de buracos, porteiras e colchetes, que são aquelas cercas móveis que se engancham em duas voltas de arame. Num daqueles buracos o carro quebrou e a roda caiu. Não tinha saída. A gente tinha que ir a pé e providenciar reboque. Começamos a andar, cada um com sua melancia no ombro. Já escurecendo, outro fusca, cheio de gente, passou em direção à ponte. Ele parou e uma ex-namorada do Laerte, que lhe provocava arrepios, desceu e começou a conversar com ele e nós continuamos andando. O Laerte tinha apanhado uma flor, como a da foto, para dar à namorada na cidade, mas na presença da ex, deu a ela e marcou um encontro. Uns 300 metros à frente, ninguém aguentava mais carregar as enormes melancias. Perto de um colchete meu pai viu uma baita jaracuçu. Com um pau executei a peçonhenta e ia jogá-la fora, quando me ocorreu um plano: - Sacanear o Laerte que vinha lá atrás. Tirei uma longa linha quase invisível do bornal, amarrei na cabeça da cobra morta e a outra ponta, amarrei no pau que usara para matá-la. Enrolei a cobra e a coloquei onde ele tinha que passar, deixando o pau ao alcance. Ficamos escondidos para ver a cena. Daí a pouco ele chegou. Ao abrir o colchete ele pisou na cobra, saltou por cima gritando e já catou o pau. Assim que o levantou a cobra veio junto. Ele pulava para trás e gritava “acode”, levantava o pau e a cobra amarrada acompanhava e quanto mais ele gritava, mais a gente ria. Quando desconfiou do trote, já estava sentado no chão com a cobra sobre as pernas. Tinha gente que chorava de rir. Ele passou emburrado sem dizer nada. Andou uns 10 metros e voltou. Foi procurar sua melancia que tinha caído e se arrebentado no chão. Novamente passou por nós e dessa vez ele disse: “Não estou com raiva não, mas pelo menos a melancia vocês me devem”. Cada um, rapidamente, colocou sua melancia na frente dele e continuamos nosso caminho. Ele pegou a maior e veio junto. Andou uns 200 metros, colocou a melancia no chão e disse: “Não dá mais não, amanhã venho buscar.” Chegamos em casa, jogamos o truco, comemos lambaris fritos, com cerveja gelada, rimos muito da aventura e comemos a galinhada que a tia Fia cozinhou. Já eram 5:00h da manhã e fomos, de caminhão, buscar o fusca. As melancias e a roda quebrada já não estavam mais lá.

Monday, August 19, 2013


Reza a Lenda que nos anos 1968 havia uma turma de jogadores de truco e a reunião era aos sábados à noite, lá na Olegário Maciel, para trucar e de madrugada, saborear uma galinhada caipira com uma cachacinha e cervejas.   Para isso tínhamos um acordo de que a cada sábado um do grupo trouxesse a galinha.   Uma colega minha de sala disse que o pai dela tinha muitas galinhas e que elas dormiam perto do muro no qual havia um buraco e que elas ficavam ao alcance da mão. A irmã dela estava perto e confirmou. Como era a minha vez de fornecer a penosa, combinei com o Laerte de irmos no carro dele. Naquela noite tinha mais truqueiros do que de costume e resolvemos levar 2 galinhas. Acontece que a minha colega e a irmã tinham discutido e a irmã contou ao pai sobre as galinhas.  O velho bigodudo de cara muito ruim ficou de tocaia perto do buraco, com um porrete. Chegamos lá, rua Dr. Alberto Moreira, às duas da manhã, a casa era em frente ao armazém Estrela, hoje armazém Feliz e lá estava o buraco.  Tudo silencioso. Ajoelhei no chão, o Laerte estava do lado, introduzi o braço até o ombro, de repente,  tomei uma cacetada na mão que tremeu o braço todo. Puxei logo o braço para trás, cobri a mão com casaco e disse ao Laerte, “a minha já peguei, rápido pega a sua, pra gente ir embora.” Ele ficou uma semana sem falar comigo.

Reza a lenda que em Araguari aos domingos as famílias reunidas no almoço se deliciavam com um franguinho caipira. Quem se lembra dessa época?
REZA A LENDA QUE EM ARAGUARI ... A MARIA FUMAÇA funcionava com uma caldeira longa e robusta com ¾ de água e uma fornalha a lenha ou carvão, alimentada pelo foguista, que aquecia a água a mais de 100 graus, produzindo vapor, movendo enormes pistões que, em vai e vem, faziam girar as rodas de ferro sobre os trilhos. A certa distância percorrida parava e reabastecia de lenha e água em locais prepar...ados para tal fim. O foguista, coberto de fuligem e o maquinista, de boné, conduziam a composição (locomotiva e vagões), O Chefe de Trem usava uniforme impecável. Ironicamente o depósito de lenha e carvão, anexo à locomotiva, chamava-se “TENDER” (Carinhoso em Inglês), ser foguista era lenha. No final dos anos 1950 chegaram as locomotivas a diesel e as Maria fumaças passaram só a manobrar vagões. Em 1958/59 ao viajarmos de trem de ferro, o ritual era o mesmo: Chamar o Sr. Civi ou o Sr. José Telha, do ponto Chic de táxis e descarregar as malas na plataforma da Estação Goiás. No guichê, tinha uma janelinha que abria como guilhotina e o vendedor entregava a passagem, um cartãozinho verde que seria perfurado pelo cobrador. O trem de passageiros dava um apito, um arranco e se punha a percorrer toda a extensão da Av. Btl Mauá, onde eram os trilhos, passando pelo Desamparo e só parava lá em Stevenson. Uns passageiros desciam outros subiam. Lá vendiam coxinhas, quibes e café quente. Abasteciam o reservatório da caldeira com água e prosseguiam até a Estação Jiló, embarque e desembarque. Se houve passageiro, parava em Sobradinho. O grande viaduto só seria construído nos anos 70. Quando a composição fazia curvas, corriam para fechar as janelinhas de vidro para impedir que minúsculas brasas que saiam junto com a fumaça pela chaminé, entrassem e fizessem pequeninos buracos nas camisas dos passageiros. Os bancos dos vagões de primeira eram estofados, os de segunda eram de madeira. A viagem era de mais ou menos 3 horas do embarque ao desembarque. O Vagão Restaurante era o paraíso. Nos anos 70 algumas variáveis contribuíram para acabar com o sonho: o lobby dos pneus e caminhões, a privatização da RFFSA e o asfalto. O gado era transportado por carretas e as BRs foram totalmente asfaltadas. O Trem de Aço que fazia o percurso de São Paulo a Brasília passando por Araguari pontualmente à meia noite, foi perdendo seu encanto e eficiência. As estações Goiás e Mogiana foram desativadas, a Escola Profissional liderada pelo Sr. João Coimbra, que formou tantos torneiros e marceneiros foi fechada. Por um tempo ainda era possível tomar um trem de passageiros na nova estação e matar a saudade, depois também isso foi encerrado. Hoje temos déficit de transportes, temos a capacidade instalada e nada é ativado. Isso ainda me entristece.See more
— at MARIA FUMAÇA ESTACIONADA EM FRENTE AO HOSPITAL DOS FERROVIÁRIOS EM ARAGUARI-foto André Luiz Chaves.

BANDA MARCIAL DO COLÉGIO ESTADUAL DE ARAGUARI - Desfilando em 7 de setembro de 1969, chegando ao palanque armado na praça Getúlio Vargas onde estavam os Diretores dos colégios, o Vigário, o Gerente do BB, o Prefeito, o Coronel do 2º Btl e outras autoridades. Os primeiros são os fuzileiros. Dos que me lembro: Silvinho da farmácia, Valter Mamede Filho, Luiz Antonio Oliveira Salomao, Andre Luiz Chaves (eu), Hamilton Tadeu (de óculos, futuro Delegado de ...Araguari), Eurípedes Ezequiel. No tarol está o Claret no centro. Acher no clarim, o Bruno no piston e o Anderson Mamede na corneta. A Banda Marcial era composta por 131 instrumentos. Na vépera do desfile, nós nos reuníamos no Colégio para preparar todos os instrumentos, polindo, pintando e estampando os couros dos fuzileiros com motivos pertinentes. Notem na foto, que na época ainda havia muitos veículos de tração animal e era necessário desviar dos "presentes" deixados na rua