Wednesday, June 13, 2012

Praia de João Francisco – Quissamã RJ

Minhas melhores lembranças do Rio de Janeiro estão localizadas a 50 km de Macaé RJ e 55 km de Campos dos Goytacazes RJ ou seja, lat.-22.214536º lon.-41.495933º.    Quissamã é uma pequena cidade repleta de história. Sua expressão como localidade habitada por colonizadores europeus data do século XVII. Mas só se consolidou a partir de uma das primeiras guerras bacteriológicas das Américas.
Embarcações repletas de roupas infectadas com o vírus da varíola foram rebocadas da Europa e essas roupas foram deixadas ao longo das praias de João Francisco, Visgueiro, Barra do Furado, Farol de São Tomé e de Gruçaí, em Campos dos Goytacazes, até a foz do Rio Paraíba em São João da Barra. Vista de Barra do Furado RJ
A finalidade do Presente de Grego era exatamente dizimar a nação Goytacaz que habitava desde as falésias de Marataízes ES até próximo a Macaé RJ, pois os portugueses não conseguiram eliminá-los com bacamartes, canhões e espadas ou corrompê-los como fizeram com os nativos de São Paulo e das Minas Gerais.
Aqueles “índios” altos de cabelos negros até a cintura eram indomáveis, não tendo se submetido nem a cultura Tupi do Norte nem aos Guaranis vindos do Sul, muito menos aos brancos colonizadores. Eram exímios corredores, nadadores, extremamente fortes, de grande estatura e inigualável ferocidade.
Evitaram contatos com os franceses, com os emboabas e até mesmo com o cacique Cobra Colorida – Araribóia – que arrebanhava nativos de todas as tribos daquela região: do Espírito Santo a Niterói RJ para lutar pelos portugas contra os franceses.
Eles são descritos pelos Jesuítas como insociáveis praticantes de canibalismo devorando os inimigos capturados.   Um religioso do século XVII registrou que os Goytacazes apanhavam tubarões com as mãos nas praias, não para consumir o peixe mas, para usar os dentes na confecção de suas armas.
Como todo genocídio ocorrido nas Américas, este também é muito velado. Os relatos só são encontrados em teses e monografias com base em documentos existentes na Torre do Tombo em Portugal.
Talvez hoje só se veja algum rastro dos Goytacazes em alguns locais entre Quissamã, Dores de Macabu e Campos dos Goytacazes nos traços étnicos de velhos habitantes: lábios grossos, grande estatura, cabelos lisos, espessos e negros, narinas dilatadas e testas largas.
Passada a fase da conquista, tenha ela sido nefasta ou não, quase 400 anos se foram e hoje o que se tem em Quissamã é uma virtuosa restinga nos quase 40 km de costa do Atlântico permeada por lagoas, alagados, flora e fauna exclusivas e um mar aberto e bravio que registra a peculiaridade daquela amada região.
A restinga foi nominada de ‘Jurubatiba’ (Muitas Árvores de Espinhos) em Tupi-guarani, foi preservada compulsoriamente pela inospitalidade natural e ultimamente pelas Leis insustentáveis do IBAMA e outros órgãos trôpegos e míopes instituídos.
Além dos meus amigos humanos da Praia de João Francisco, inúmeros outros, secos e molhados, subsistem ou jazem naquelas paragens.
Morei lá oito anos. Ficou uma saudade que se eu pudesse medir, começaria em São João da Barra, passaria por Atafona, Gruçaí, Xexéu, Barra do Furado, Farol da Marinha, Vapor, Valão, Visgueiro, Maria Menina, Piripiri, LAGOA DA GARÇA, Coqueiros, Baleia até a Lagoa do Paulista e pararia pra descansar lá na Praia dos Cavaleiros em Macaé.
Pior que a saudade seria não ter conhecido aquele lugar e aquelas pessoas.

ARAGUAIA - O RETORNO 2012

    
     Após 3 longos anos de ausência das águas do Araguaia, lá fomos nós outra vez rever o Ouro Fino.  Rodamos 576 km até Aragarças, atravessamos para Barra do Garças no Mato Grosso e mais 37 km de estradas de terra até o rancho do Neres.

     Alcides deslizou seu Toyota Camry pelas estradas goianas fazendo o percurso em 6 horas.  No primeiro contato com a terra dos Bororos e Xavantes, fomos ao bar do Vander comer uma barriga de filhote pela qual esperávamos há três anos.
     Como sempre acontece em junho, havia um encontro de motociclistas com direito a todo barulho que conseguem fazer.  Todos os hotéis, pousadas e pensões estavam ocupados.  Passamos no supermercado, compramos o básico para 3 dias e partimos direto para a margem esquerda do Araguaia, 37 km rio abaixo.

     Nosso fiel e etílico amigo Tião já estava lá há algum tempo. Alguns bico-de-patos, mandis e piaus já tinham sido pescados para garantir o jantar.

     No primeiro dia degustamos maminha de alcatra e fraldinha regadas a  whisky, vodka com poupa de cajamanga fornecida pelo Batista.  É claro que a cerveja já estava gelada na caixa térmica.

     Depois de muito comer e beber com a presença do nosso amigo Álvaro, carinhosamente apelidado de Garoto do Gepeto, só nos restava amarrar as redes e repousar, não ao som de uma sinfonia de Mozart mas, ao som da dupla still & husqvarna  além do vento frio lá pelas 3 da manhã.

     Logo pela manhã ouvimos o canto dos sanhaços, melros, guaches e tucanos se refestelando com os mamões, melancia e melões que deixamos na árvore ao lado.

     Após navegar até o rio Caiapó, pescar mandis, piaus e até uma façanha do Alcides: fisgar uma jurupoca pelas costas, era hora de voltar.  Saímos às 7 h e chegamos em Brasília às 13 h.   Já estamos planejando o retorno.