Monday, September 23, 2013

Reza a Lenda que num sábado gelado de julho de 1968 começamos o truco às 14:00h pois todos iam na 2ª sessão às 21:45h no Cine Lux, ver o Christopher Lee em “Drácula, o Príncipe das Trevas”. Uma das poucas diversões de Araguari eram os cinemas. Os filmes do Drácula estavam no auge. O Cine Rex bem requintado e o Lux popular. O Laerte perdeu todas as partidas e de raiva, bebeu muita cerveja. Às 21:00h encerramos com a galinhada e partimos para enfrentar o Drácula, uns mais corajosos; outros meio acanhados de confessar o medo. Ao chegarmos, a luz já havia apagado e cada um procurou achar uma poltrona disponível. Alguns minutos de filme e o Laerte me disse que precisava ir ao banheiro, mas com o filme tenso, ele não queria perder nada. Na tela aparecia um cemitério escuro e túmulos iam sendo exibidos um a um até chegar à tumba do sinistro vampiro. Aquele era o momento em que a gente pensava: “Por que eu vim aqui?” O suor brotava na testa quando o caix...ão preto começava a abrir a tampa com um rangido de arrepiar os cabelos. Dentre as pessoas iam ao banheiro, o César, goleiro do Araguari, deixou uma bombinha, das grandes, com o estopim enfiado num cigarro aceso, escondida atrás do vaso sanitário. O cigarro queimava e a braza se aproximava da bomba prestes a explodir. Na tela aparecia um morcego chupando o sangue de uma jovem adormecida. Em seguida ele voava para o cemitério e se pendurava sobre o caixão já aberto onde jaziam as cinzas do Drácula. O Laerte suava e se segurava na cadeira, desesperado para ir ao banheiro e abismado com o morcego que deixava cair gotas de sangue nas cinzas que já começavam a se regenerar. Mais um pouco e o vampiro estava formado. De repende apareceu sua face e ele abriu aqueles olhos rajados de veias vermelhas e ao mesmo tempo a bomba explodiu. Um estrondo absurdo! Foi uma comoção geral. As pessoas se levantaram aterrorizadas, correndo, as luzes se acenderam, o Sr. João porteiro e o Sr. Manoel comissário de menores entraram bravos. Uma fumaceira saía do banheiro e o filme foi interrompido. Após um sermão de uns 6 minutos do Sr. Manoel e a ameaça de chamar o Cabo Baixinho, o filme recomeçou. O Drácula com suas malvadezas foi morto com uma cruz cravada nas costas e virou cinzas. Terminou o filme. Todos saímos aliviados, comentando os acontecimentos e cadê o Laerte? Ele foi o último a sair. Olhou para a turma que o esperava e disse: “Se alguém falar alguma coisa eu nunca mais saio com vocês.” E passou com aquela calça, boca de sino branca, ainda toda molhada.
Foto e Edição do Cine Lux por André Luiz Chaves – Araguari MG

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