"Though it had wings it still looked back"
Those Good Old Friends
Tento há muitos anos encontrar amigos de infância e adolescência. Consegui localizar alguns ciscando sites de endereços, revolvendo sobrenomes em bancos de dados como um consumidor em fim de feira buscando algum velho tesouro escondido. Às vezes sinto que procuro quem não quer ser encontrado.
Assim, já com cara de imbecil, esses meus olhos materiais resolveram encarar os do espírito e perguntaram:
- por que essa busca?
Os do espírito, cheios de pretensa sabedoria, estabilidade e equilíbrio tinham a resposta na ponta da língua com requintes de dramaticidade tendentes à tragédia:
- ora, o quanto foi bom ter descoberto o universo junto com aquelas pessoas merece ser rememorado e compartilhado agora que as inseguranças foram vencidas e que bom seria o reencontro, as velhas brincadeiras inteligentes identificadoras da afinidade que sempre nos permeou.
Aí esses olhos, de imbecis passaram a sarcásticos, esboçando aquele sorrisozinho encoberto, silencioso e de perfil indicador do reverso do sentimento anímico ingênuo, antiquado e fundado em expectativas que dependem mais das variáveis de terceiros do que de si mesmo e os esses olhos alfinetaram:
- ...e os outros amigos sabem disso e estão sintonizados na mesma freqüência da rádio saudosista que Vossas Inocências? e mais, que obrigação eles têm de estar disponíveis à procura? se quisessem continuar a descoberta do universo usando as lanternas daquela época, eles se fariam conhecer.
Agora já sem tanta certeza os estrábicos olhos etéreos pasmos de espanto volveram espaços e tempos e acordaram. Não dormiam. Entraram em acordo com os zarolhos olhos físicos. Enxergaram que o tempo passando implica que novas ferramentas trabalham mentes o tempo todo. A partir de quando os amigos se separam, embora ainda se amem e a afinidade conduza para condicionamentos e conclusões ainda congruentes, os interesses são outros, os problemas também.
Não é culpa de ninguém. É a vida. Somos nós, os humanos. Mutantes com memória. Às vezes é bom. Às vezes dói tentar que a felicidade se repita. Memória!
Dizem agora, em quase sintonia, os olhos do espírito com os do corpo: admitimos que amamos nossos amigos de infância e adolescência. Graças a Deus que os conhecemos. Fomos muito bons uns para os outros no passado. E sentimos que seremos ainda melhores se formos deixados lá, no passado, prezando as boas lembranças.
Aqueles bons e velhos amigos.
I have tried for a long time to find my childhood and adolescence friends. I managed to find some by scratching address sites, rummaging names in data basis like a costumer at the end of a fair looking for hidden treasures. Sometimes I feel like looking for who doesn’t want to be found.
So, feeling like a fool, these material eyes of mine decided to face those of the soul and asked:
-why searching?
Those eyes of the spirit, full of pretentious wisdom, stability and equilibrium had the answer on tip of the tongue with touches of drama trending to tragedy:
-Now, how good it was to have discovered the universe together with those persons and it deserves to be recalled and shared again now that the insecure feelings have passed and how good it would be meeting again, those intelligent jokes which identified the affinity that always permeated our thoughts.
Then, these eyes, changing from foolish to sarcastic, drawing that hidden silent smile indicating the reverse of the ingenuous spiritual feeling, old fashioned and bound to expectations that depend more on variables of others than in themselves and these very eyes stabbed:
-…and the other friends, do they know about that and are synthonized with the same frequency of the radio memory as Thy Innocences? and more, are they compelled to be available to this search? and if they wanted to keep discovering the universe using those ancient lanterns they would let themselves be known.
Now, not more so full of certainty, the squinting ethereal eyes astonished watched space and time and agreed. They were not sleeping. They agreed with the half blind physical eyes. They saw that time passing brings new tools working minds all the time. Since the day friends get apart, albeit they still love each other and affinity leads to conditionings and conclusions that still are congruent, the interests are now others and so are the problems.
No one is to blame. It’s life. It’s us, the humans, Mutants with memories. Sometimes it’s good. Sometimes it hurts to try to repeat happiness once more. Memory!
They say now, almost in harmony, the spiritual eyes with the corporeal ones:
-We admit that we love our childhood and adolescence friends. Thanks heaven we knew them. We were very kind to each other in the past. And we think that we will be still better if we are left there, in the past, praising the good memories.