Sunday, August 18, 2013

LENDAS DO LAERTE IX

Reza a lenda que mesmo depois de tantos anos, nos anos 80, nossos usos e costumes continuavam com a pontualidade de sempre: truco, galinhada, cerveja gelada e caipirinha. Era minha vez na cozinha. Aquele sábado foi o recorde de azar do Laerte. O sanhaço dele, idêntico a esse aí da foto, que cantava maravilhosamente e se chamava Violino, morreu. Ele e o parceiro dele perderam todas as quedas que jogaram das 19:00h até às 4:00h da madrugada do domingo e por isso desafiaram para revanche no domingo à noite. Perderam de novo. Aborrecido, o Laerte reforçou na caipirinha e saiu lá de casa bem temperado, mais precisamente “cercando frango no corredor”. Acordou numa ressaca bíblica. Foi trabalhar assim mesmo. E nesse estado de espírito ele recebeu em sua oficina um antigo amigo às 09:00h da manhã daquela segunda-feira, que pedia que ele fosse testemunha em uma audiência no fórum de Araguari às 14:00h daquele dia. Era um velho amigo, cujo filho já havia causado ao Laerte transtornos e muita raiva. Os nomes serão omitidos a título de preservação, mas o fato é verídico e de domínio público. Por considerar muito o amigo, o Laerte aceitou o pedido. Ele nem sabia do que se tratava e o amigo nada lhe disse. Trabalhou até 12:30h, já estava atrasado, atravessou a rua e foi lá pra casa. Pediu para tomar banho, almoçou, vestiu sua célebre camisa preta e o meu irmão, Herlon, o levou ao fórum. Chegaram em cima da hora. A Juíza, circunspecta, solene e carrancuda, ajeitou os óculos na ponta do nariz e perguntou ao Laerte:
-“O senhor conhece o acusado Álvaro?” o Laerte olhando para seu amigo disse:
-“Claro que sim, minha senhora, é uma pessoa muito boa, trabalhador, dedicado, paga em dia e é um bom pai de família. Conheço ele há mais de 30 anos e posso dizer que é uma ótima pessoa. Tudo que sei dele são coisas boas. Pode confiar.” A Juíza muito séria olhou no fundo dos olhos do Laerte e disse:
- ”Senhor Laerte, ele nem é casado e tem menos de 30 anos. O senhor sabe que pode sair daqui algemado e preso por falso testemunho?”
- “Aúúúú! A senhora está falando de quem? Desse meu amigo aqui, o Álvaro?” Perguntou o Laerte, admirado e surpreso, indicando o velho amigo dele que já balançava a cabeça desesperado.
A meritíssima cerrando os dentes esbravejou: -“O senhor se dirija a mim com respeito!!! Eu estou falando do réu que está sentado a sua direita e que tem o mesmo nome do pai dele.”
-“Ahhhhh, bom! agora a senhora me deixou mais tranquilo. Tô fora!” disse o Laerte tremendo e aliviado, completou: “Desse aí não sei é nada de bom”.


No comments: