Sunday, August 18, 2013

LENDAS DO LAERTE VIII
Reza a Lenda que estávamos nos últimos dias de férias do Estadual em 27 de julho de 1968, num sábado  com um vento frio cortante em Araguari.  Fogão de lenha aceso, uns em volta da mesa de truco outros buscando o calor do fogo.  O jogo tinha começado cedo e precisava acabar cedo, pois todos nós íamos ao Bar Capri, em frente à praça Getúlio Vargas assistir a eliminatória do Festival Estudantil de Música Popular. A finalíssima era entre o Laerte e o Gomera. Valia taça e prêmio em dinheiro.   O Laerte tinha brigado com a namorada e estava sorumbático.  Comemos a galinhada e fomos apoiá-lo com nossos aplausos. Uma turma de uns dez, descendo pela Marciano santos até a praça naquele frio antártico. Todo mundo encapotado,  o bar todo enfeitado e apinhado de gente. O Nocera já estava a postos com seu conjunto.  Anunciaram o Gomera e ele deu um show com “Love is all”, memorável.  Quando o Laerte, de roupa nova, ia para o palco, encontrou a namorada emburrada e para reconquistá-la disse-lhe que iria cantar uma música especialmente para ela.  Anunciaram a música “Ronda” que eles tinham ensaiado.  O Laerte disse: “Não.  Eu quero cantar é ‘Eu sei que vou te amar’ do Vinícius de Morais”. O apresentador coçou a cabeça, olhou para o Nocera e perguntou se podia trocar de música e ele concordou. O Laerte soltou a voz, cantou como um sabiá apaixonado.  Tinha gente que chorava.  O povo aplaudiu de pé. Na votação do júri deu empate. Nos aplausos também deu empate. Resolveram dividir o prêmio. Metade do dinheiro e uma taça para cada um. O Laerte comemorando, levantava a taça e mostrava ao público que aplaudia e ria muito ao mesmo tempo. Então ele acenava mais ainda e fazia pose para as fotos e mais o pessoal dava risada. A namorada agora sorridente, toda emocionada, exibindo a taça.  O dinheiro bebemos em cervejas, depois  fomos embora. No próximo sábado, o Laerte cabisbaixo chegou lá em casa um envelope com as fotos reveladas e disse: ”Agora vi porque todo mundo estava rindo.”  As fotos muito nítidas o apresentavam com a taça na mão, camisa preta, calça preta e a braguilha aberta com a cueca samba-canção branca dando tchauzinho para fora da calça.

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