Sunday, August 18, 2013

     Reza a Lenda que ainda posso ouvir o tilintar das ferraduras dos cavalos contra o calçamento de paralelepípedos da Olegário Maciel. Lembro-me já estar deitado na cama quentinha, já bem tarde da noite, às vezes uma chuvinha fina e duradoura e aquele barulhinho distante que vinha chegando, numa cadência crescente, passava diante de minha casa e continuava em direção à Rua Marciano Santos. 
     Eram as charretes, pequenas carroças com uma cobertura de lona e rodas com pneus, puxadas a cavalo. Tinham, além da capota, uma grande lona para cobrir as pernas dos passageiros em dias de chuva. Na parte traseira tinha uma grade para comportar as malas. Essas charretes sempre se dirigiam de madrugada para a estação ferroviária Goiás.
     Muitas vezes minha mãe, meus dois irmãos e eu fazíamos esse trajeto de charrete. Meu pai combinava na véspera com o charreteiro informando o horário e o percurso. Era uma verdadeira festa mágica para nós crianças.  O cavalo com os tapa-olhos, os arreios, largas tiras de couro branco atavam o cabeçalho da charrete ao peitoral e à cilha, de onde saíam duas correntes que se prendiam à madeira, que era para dar a tração e uma correia larga passando pelas patas traseiras para frear.   Tinha um dispositivo para pisar e subir. 
     Todos a bordo, o charreteiro não chicoteava o cavalo, só batia o cabo do chicote em um suporte, o animal entendia e lá íamos nós, num chacoalhante trote, virando à esquerda na A Nordestina, indo pela Marciano Santos,  passando em frente a Estação Ferroviária Mogiana, um prediozinho modesto, porém bonito,  depois o quiosque do Tojiko e logo estávamos lá, diante dela, a magnífica
Estação Ferroviária Goiás.


Construção solene, imponente e elegante. Como uma grande catedral que torna pequenos aqueles que adentram suas instalações, aquela estação sempre fascinou os araguarinos e quem quer que por ali passasse. Quando foi desativada, caiu um tempo em esquecimento, mas graças a Deus, as autoridades locais deram a ela o destino nobre e honrado que ela sempre mereceu.

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